MOTIVAÇÕES PARA EMIGRAR: ALGUNS COMENTÁRIOS

As motivações para emigrar para Portugal geralmente dividem-se em duas vertentes principais: há quem o faça para fugir dos problemas do país onde vive – o desconforto –, e há quem o faça pelas expectativas em relação a Portugal – o sonho. Embora possam parecer semelhantes, essas razões têm nuances distintas. A questão central é: o que vem primeiro? A necessidade de deixar os problemas para trás ou o desejo de construir um futuro melhor para si e para a sua família?

Neste texto, excluo os motivos ligados a modismos ou aqueles que veem em Portugal uma oportunidade de fugir de si mesmos. Talvez um dia escreva sobre esses dois grupos, mas agora foco nas motivações estruturais mais comuns.

Na primeira vertente, estão aqueles que emigram para escapar da miséria ou de situações de grave instabilidade nos seus países de origem. Aqui encontramos africanos, islâmicos, paquistaneses, nepaleses e outros que, ao saírem de contextos de pobreza extrema, buscam inclusão num mundo democrático, onde possam alcançar uma vida digna. Para eles, emigrar não é apenas uma escolha, mas muitas vezes a última tentativa de escapar de uma situação de miséria crônica que persiste há séculos.

Os brasileiros também estão, em grande parte, incluídos nesta vertente. Muitos buscam em Portugal um refúgio da insegurança que permeia o dia a dia, da instabilidade econômica, e de um mercado de trabalho que frequentemente oferece apenas o suficiente para sobreviver. Conforme ascendemos na escala econômica e social, outras preocupações tornam-se evidentes: insegurança jurídica, corrupção endêmica, crises econômicas cíclicas, desvalorização da moeda local, e os custos crescentes de saúde e educação. Tudo isso se combina ao medo de uma explosão social, levando muitos a procurar um futuro mais estável.

Na segunda vertente, estão aqueles que enxergam em Portugal uma oportunidade para viver de uma maneira que nunca puderam no seu país. Este grupo é movido por um sonho de inclusão na União Europeia, optando por Portugal devido a fatores como segurança, acesso a serviços de saúde e educação de qualidade, transporte público eficiente e, para os povos da CPLP, a vantagem da língua e das afinidades culturais. Quando esses elementos se combinam a uma boa qualidade de vida, clima agradável, custo de vida relativamente competitivo e incentivos governamentais para atrair residentes estrangeiros, o resultado é um fluxo migratório contínuo e crescente.

Com oito anos de experiência no apoio a emigrantes, percebo que muitos não emigram apenas para fugir dos problemas em seus países, mas porque buscam algo mais. Mesmo aqueles que vivem bem no país de origem desejam novas experiências e oportunidades, que percebem serem possíveis na Europa. Portugal, com sua posição estratégica e sua recetividade, frequentemente se apresenta como a melhor porta de entrada.

As facilidades de comunicação e informação, as viagens de férias, e o contato com quem já reside aqui são fatores que ajudam a moldar este sonho. Aos poucos, ele deixa de ser apenas uma ideia e transforma-se em uma decisão concreta de vida.

Compreender as reais razões desse movimento migratório é o princípio de um bom planejamento e uma viagem com menos riscos e chance de não correr bem.

Setúbal, 12 de dezembro de 2024

Renato Leal

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